A opinião de ...

Comemoração – causa e efeito

«Causa e efeito - Não se produz nenhum phenomeno ou acontecimento sem causa, porque este é o princípio soberano e regulador da razão humana na averiguação dos factos. Não descobrimos muitas vezes a causa de uma ocorrência, e reputamos como causa o que é efeito» (in Archivo Pittoresco, de 1867).
Assim deveria refletir-se no presente. Não há nenhum facto histórico que não tenha sido objeto de uma causa e não traga as suas consequências. Diversos momentos da História Universal tão rica e fecunda, mas também tão prenhe de acontecimentos que envergonham o HOMO SAPIENS. Cito quatro momentos históricos mais recentes (não abordo o problema da Escravatura – fenómeno antigo como a existência humana): a Santa Inquisição”, a Segunda Grande Guerra, as Guerras de Independência dos Povos Africanos, da América e da Ásia. Também, agora, no Médio Oriente, a guerra, a que se pretende dar o rumo da paz, após um massacre, seguido de genocídio e devastação material.
Entretanto, existem factos históricos que nos dizem respeito. Lembro o que sucedeu ao Infante D. Pedro, Duque de Coimbra, Soure, Montemor-o-Velho e demais localidades (o tal das Sete Partidas, humanista, viajante pela Europa, onde absorveu as novidades culturais e políticas, e foi conselheiro dos seus irmãos, o rei D. Duarte e D. Henrique, o chamado Navegador). Regeu o Reino pela menoridade do sobrinho, o futuro Afonso V. Foi assassinado em Alfarrobeira, quando se dirigia com os seus peões e cavaleiros para submeter-se ao rei, porque o Duque de Bragança, D. Afonso, seu “irmão bastardo” (assim se designava), convenceu o jovem rei de que Pedro pretendia perpetuar o poder.
Também o que se passou com o eventual envenenamento de D. João II, um dos grandes reis de Portugal, facto que ainda suscita polémica.
Igualmente, Damião de Góis, um dos maiores humanistas da nossa História penou até à morte. A Inquisição prendeu-o, açoitou-o, após acusação por um tal Simão, frade, por trazer ideias novas da Europa, e praticar heresias contra a igreja. Morreu, sarnoso, abandonado à sua sorte, em Alenquer. Ele que fora retratado por Dürer, e conhecera grandes vultos do Renascimento europeu e escrevera diversos tratados e crónicas.
Estamos nas vésperas de uma comemoração: o 25 de Novembro de 1975. Muito se tem escrito acerca deste momento da nossa História recente. Diversos autores, militares e civis, (comentadores, jornalistas, políticos, sociólogos…) estão aí para interpretar, cada um à sua maneira, este facto.
Questiono: quantos Novembros se comemoram? O dos spinolistas, o do MDLP, o do Grupo Maria da Fonte, o dos Comandos de Defesa da Civilização Ocidental…? Apesar do non sense desta comemoração, olho para a comissão organizadora e admiro-me: como puderam nomear figuras que fazem estarrecer, por serem declaradamente contra o 25 de Abril de 1974, e que, estou certo, Sá Carneiro e Mário Soares repudiariam? Pretende-se refazer a História? Não haverá aí um historiador que construa verdadeira História sobre este acontecimento, com base em fontes primárias existentes, vivas, incontornáveis? Ou pretende-se uma damnatio memoriae (danação da memória) do 25 de Abril?

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4059

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