Pe. Manuel Ribeiro

O coração pesado

Gostava de fazer esta reflexão a partir do seguinte trecho do Evangelho de São Lucas: “Tende cuidado convosco, não suceda que os vossos corações se tornem pesados com a intemperança, a embriaguez e as preocupações da vida e esse dia não vos surpreenda subitamente como uma armadilha” (Lc 21, 34). Gosto, em especial, de ler o último Evangelho de cada Ano Litúrgico. Este texto sagrado gerou em mim a consciência acerca do perigo em pensarmos que somos, apenas e só, personagens da nossa própria vida ou da nossa própria história.


Que eu seja o presente

em hoje, deprimido pelo passado que foi e na ansiedade do que há de ser. Paralelamente, olhamos para o presente como uma oportunidade de fruir o mais possível como se não houvesse amanhã, como se tudo se cingisse às vivências desenfreadas das emoções e das sensações corpóreas. Tudo muito poroso, na verdade...


O amor tem a forma da cruz

“O amor tem uma forma de cruz”. Bela esta expressão. O amor, em vez de ter a forma do coração, tem a forma da cruz. Nos tempos actuais e na cultura dominante a cruz está fora de moda. A cruz é escandalosa! O mundo de hoje rejeita a cruz e não concebe que o acto maior de amar implica – sempre – abraçar a cruz. Na verdade, a cruz recorda-nos como é árduo e trabalhoso amar, onde a opção pelo amor nos exige sempre tudo.


O medo de si

Neste contexto tão peculiar, tão diferente e tão incerto, o existencialismo humano assume redobrada importância e um renovado espaço reflexivo nos fóruns íntimos e sociais da pessoa e da comunidade.


Da liberdade de pensar à liberdade de escolha

Depois de ler o mais recente livro de Bernard-Henri Lévy (“Este vírus que nos enlouquece”) – que, aliás, muito recomendo – fiquei maravilhado com a ousadia e a argúcia com que este filósofo contemporâneo soube abordar, quer do ponto de vista social, quer do ponto de vista político, o tão eclético, transversal e polémico tema do ´fique em casa’ e do ‘politicamente correcto’.


Por uma cultura do encontro

Nestes tempos marcados pelo “distanciamento social”, medida largamente promovida e propagada pelas autoridades civis e de saúde, convém lembrar que a pessoa humana – ser social por natureza – nutre-se pela presença e pelas relações variadas de partilha e de encontro. Temo que esta expressão – “distanciamento social” – venha acentuar as demais assimetrias sociais.


Somos aquilo por que(m) lutamos

Nesta crescente onda de desleixo e de imprudência, no meio de oportunismos políticos e mediáticos, vemos o raiar de uma nova ‘forma social’, de uma assunção colectiva sem memória e sem história.
De alguma maneira, parece que a história se repete. Muitas são as linhas que nos projetam os anos 20 e 30 do século passado. São tal as semelhanças entre o actual período e o período referido que me faz deixar apreensivo e assustado. Sabemos das consequências das opções dos homens daquele tempo e sabemos – talvez bem demais – da dor provocada por essas mesmíssimas opções.


O desejo cristão pela Santa Missa (continuação)

Não somos, na verdade, povo sem terra e vazio de sentido. Sabemos bem que do ponto de vista antropológico o vazio deixado por alguém ou por algo faz com que, inevitavelmente, seja preenchido por outro alguém ou por outro algo. Não queremos que o espaço da Fé e de Deus seja preenchido por outra coisa qualquer. Gilbert Chesterton (escritor e filósofo) dizia que não há problema em não acreditar em Deus: “o problema é que quando se deixa de acreditar em Deus e se começa a acreditar em qualquer outra farsa, seja na história, na ciência ou em si mesmo, que é a coisa mais brega de todas.


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