Uma região inteira a definhar
O povo costuma ser sábio naquilo que diz e, desde há muito, o povo vai dizendo que “não há pior cego do que aquele que não quer ver”.
A impressão que dá, olhando para as políticas públicas dos últimos 15 anos (para não dizer dos últimos séculos), que atravessaram vários partidos na governação, é que sistematicamente o Interior do país tem sido cada vez mais votado ao abandono. E, a manter-se a atual trajetória, dentro de poucos anos, mais de metade do país será um imenso parque natural, mas sem habitantes.
Só o distrito de Bragança, olhando para os números do teste do pezinho divulgados pelo Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (ver texto nas páginas anteriores), perdeu mais de uma centena de nascimentos por ano.
Em 2015, nasciam no distrito mais de 600 crianças todos os anos.
Depois de um primeiro alerta em 2018, em que houve 596 testes feitos a recém-nascidos, desde 2020 que o número de crianças nascidas no Nordeste Transmontano desceu para números abaixo das 600.
E, pela primeira vez, em 2024 tivemos menos de 500 nascimentos (494).
Olhando para esta trajetória de números, não é difícil de ver para onde caminhamos: a extinção.
Numa altura em que pululam as notícias sobre as dificuldades crescentes em arranjar habitação condigna em regiões metropolitanas como Lisboa e Porto (dificuldades que se vão alastrando a outras zonas do país, como Braga), salta à vista a falta de planeamento e organização de um país, pois em muitas outras cidades sobram casas desocupadas.
Numa altura em que se vai entrar em campanha eleitoral, estará na hora de discutir, de facto, políticas públicas que ajudem, por um lado, a fixar pessoas nestes territórios. E, depois, atrair mais gente.
As medidas têm de começar, em primeira instância, pelas entidades e organismos locais, de forma a perceberem o que podem fazer para ajudar a fixar os jovens casais no distrito. Isso passa por dar condições de emprego a quem já cá está.
É preciso unir as vozes em prol do mesmo desígnio para ganhar poder reivindicativo junto das instâncias centrais.
Ainda na terça-feira, em direto, na SIC, o presidente da Câmara de Oeiras, Isaltino Morais, dava uma lição de governança municipal ao seu homólogo de Lisboa. Suspeito que o vídeo em breve se tornará viral.
E Isaltino Morais, oriundo do concelho de Mirandela, dizia isso mesmo. Que cabe aos governantes municipais fazerem ouvir a sua voz junto do poder central, se preciso for com posições de força.
Os dirigentes municipais não podem assumir o papel de pedintes e andar sempre de mão estendida à espera de governar as suas gentes com as migalhas que o Poder Central, por especial favor, decidir conceder. Todos os cidadãos merecem a mesma dignidade e respeito, assim como os seus eleitos. E enquanto não percebermos isso, todos, vamos vendo alegremente toda uma região a caminhar para a extinção...